quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Cultura alheia

Devo começar esta crónica por avisar o leitor que não encontrará aqui quaisquer respostas, apenas questões, perguntas, interrogações. Devo também avisar o leitor que isso deve-se à minha falta de respostas para as questões que aqui quero levantar. Talvez noutra ocasião me aventure a explorá-las. Por agora, apraz-me apenas perguntar, levantar a discussão.

Não saberão os portugueses escrever? Ou cantar, ou tocar, ou representar? Não serão os portugueses seres dotados para as artes? Não saberão os portugueses pintar? Ou esculpir, ou desenhar, ou ilustrar?

Não será a criatividade uma das virtudes deste povo? Estas são as perguntas que me surgem quando vejo o top de vendas das livrarias, quando vejo os cartazes dos festivais de música, quando procuro os filmes em cartaz... Pouco ou nada tem origem em Portugal, pouco ou nada é feito por portugueses. Porquê?

Esta é a pergunta que me surge de imediato, uma interrogação que não consigo solucionar, uma preocupação que me tira o sono, a vontade de dormir. Então escrevo. Como não consigo dormir, apoquentado por estas questões, escrevo crónicas com a esperança de que elas agitem consciências, mudem opiniões e modos de pensar. Eu acredito na qualidade dos artistas portugueses, acredito no valor da arte que por cá se faz, reconheço a sua qualidade!

Por isso não compreendo como é possível que se importe oitenta ou noventa por cento da cultura que por cá é consumida? Nem na cultura somos exportadores ou, pelo menos, autossuficientes. Sintonizo a rádio e pouco oiço de português, ligo a televisão e praticamente nada tem origem própria. Porquê? Não serão os portugueses um povo de cultura? Ainda ontem sonhávamos em construir o Quinto Império e hoje dedicamo-nos à compra dos "quintos impérios alheios". Quando começaremos a dar oportunidade ao que é feito por cá, feito por nós?

Quando começaremos a comprar livros de autores de língua portuguesa? Quando começaremos a comprar os CD dos nossos músicos e os filmes dos nossos atores? E de quem é culpa? Das editoras que não publicam os nossos conteúdos? Do público que não consome esses conteúdos? Ou das editoras que não publicam esses conteúdos por eles não serem vendáveis? Ou do público que não os consome por não estarem publicados? Não o avisei eu que apenas havia aqui questões?

2 comentários:

  1. porque ainda está muito presente o dogma de que tudo o que vem de fora é melhor. nós temos no meu ponto de vista os melhores escritores e no entanto é preciso alguém estrangeiro reconhecer primeiro para somente depois ser aceite por cá. somos muito provincianos e isso reflete a nossa cultura, forte, somos mais cultura que outra coisa, no entanto renegamos o bom que temos em prol do que é fora. triste mas real.

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    1. Tenho muita pena que assim seja. Há tanto potencial dentro de portas! Não digo que não se deva importar o que de bom se faz lá fora, o problema é quando se aceita tudo de forma acrítica. E há livros que enfim....

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